Ferdinand (Espírito)
Ensinamentos e Dissertações Espíritas
SRA. DE GIRARDIN
(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sra. Costel)
Nota – Tendo sido feitas algumas observações críticas sobre a comunicação ditada na sessão anterior, dada pela Sra. de Girardin, esta as responde espontaneamente. Faz alusão às circunstâncias que acompanharam aquela comunicação.
“Venho agradecer ao associado que houve por bem apresentar a minha defesa e minha reabilitação moral perante vós. Com efeito, em vida eu amava e respeitava as leis do bom-gosto,que são as da delicadeza – diria mais – do coração, para o sexo a que pertencia; depois de minha morte, permitiu Deus que eu fosse bastante elevada para praticar fácil e simplesmente os deveres da caridade, que nos ligam a todos, Espíritos e homens. Dada esta explicação, não insistirei sobre a comunicação assinada com meu nome, desde que a crítica e a censura não convêm nem a meu médium, nem a mim. Assim, crede que virei quando for evocada, mas jamais me intrometerei nos incidentes fúteis. Eu vos falei das crianças. Deixai-me retomar este assunto, que foi a chaga dolorosa de minha vida. A mulher necessita da dupla coroa do amor e da maternidade, para preencher o mandato de abnegação que Deus lhe confiou, ao lançá-la na Terra. Infelizmente eu jamais conheci essa doce e suave preocupação, que na alma imprimem esses frágeis depósitos. Quantas vezes segui, com os olhos rasos de lágrimas amargas, as crianças que, brincando, vinham se roçar no meu vestido; e sentia a angústia e a humilhação de minha decadência. Eu tremia, esperava, escutava, e minha vida, cheia dos sucessos do mundo, frutos repletos de cinza, não me deixou senão um gosto amargo e decepcionante.”

Delphine de Girardin

Observação – Há neste trecho uma lição que não deve passar despercebida. A Sra. de Girardin, fazendo alusão a certas passagens de sua comunicação anterior, que levantara algumas objeções, disse que em vida amava e respeitava as leis do bom-gosto, que são as da delicadeza, e que conservou esse sentimento depois da morte. Repudia, em conseqüência, tudo o que, nas comunicações que levam o seu nome, se afaste do bom-gosto. Após a morte, a alma reflete as qualidades e os defeitos que tinha durante a vida corpórea, salvo os progressos que possa ter feito no bem, porque pode ter-se melhorado, mas jamais se mostra inferior ao que era. Assim, na apreciação das comunicações de um Espírito muitas vezes há matizes de extrema delicadeza a observar, para distinguir o que realmente é dele, ou o que poderia ser uma substituição. Os Espíritos verdadeiramente elevados não se contradizem nunca e podemos corajosamente rejeitar tudo quanto desminta o seu caráter. Muitas vezes esta apreciação é tanto mais difícil quanto a uma comunicação perfeitamente autêntica pode misturar-se um reflexo, seja do próprio Espírito do médium, que não exprime exatamente o pensamento, seja de um Espírito estranho, que se interpõe, insinuando seu próprio pensamento no do médium. Deve-se, pois, considerar como apócrifas as comunicações que, em todos os pontos, e pelo mesmo fundo das idéias, desmintam o caráter do Espírito cujo nome levam. Mas seria injusto lhes condenar o conjunto, por algumas nódoas parciais, que podem ter a causa que acabamos de assinalar.

A PINTURA E A MÚSICA

(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sr. Alfred Didier)

A arte foi definida cem mil vezes: é o belo, o verdadeiro, o bem. A música, que é um dos ramos da arte, pertence inteiramente ao domínio da sensação. Entendamo-nos e tratemos de não ser obscuro. A sensação se produz no homem quando ele compreende a arte de duas maneiras distintas, mas estreitamente ligadas; a sensação do pensamento que tem por conclusão a melancolia ou a filosofia, e, depois, a sensação que pertence por inteiro ao coração. A música, a meu ver, é a arte que vai mais diretamente ao coração. A sensação – havereis de compreender-me – está toda no coração; a pintura, a arquitetura, a escultura, a pintura antes de tudo, atingem muito mais a sensação cerebral. Numa palavra, a música vai do coração ao Espírito, a pintura do pensamento ao coração. A exaltação religiosa criou o órgão. Quando na Terra a poesia toca o órgão, os anjos do céu lhe respondem. Assim, a música séria, religiosa eleva a alma e os pensamentos. A música vulgar faz vibrar os nervos, nada mais. Eu bem gostaria de indicar algumas personalidades, mas não tenho esse direito: não estou mais na Terra. Amai o Réquiem de Mozart,que o matou. Não desejo, mais que os Espíritos, a vossa morte pela música, a morte viva, contudo; aí está o esquecimento de tudo quanto é terreno, pela elevação moral.

Lamennais

FESTAS DOS ESPÍRITOS BONS

A chegada de um irmão

(Enviada pela Sra. Cazemajoux, médium de Bordeaux)

Também temos nossas festas, e isto acontece com freqüência, porque os Espíritos bons da Terra, nossos irmãos bemamados, despojando-se de seu invólucro material nos estendem os braços e nós vamos, em grupo inumerável, recebê-los à entrada da morada que, doravante, vão habitar conosco. E nessas festas, como nas vossas, não se agitam as paixões humanas, sob rostos graciosos e frontes coroadas de flores, ocultando a inveja, o orgulho, o ciúme,a vaidade, o desejo de agradar e de primar sobre rivais nesses prazeres factícios. Aqui reinam a alegria, a paz, a concórdia; cada um está contente com a posição que lhe é assinalada e feliz com a felicidade de seus irmãos. Pois bem, meus amigos! com esse acordo perfeito, que impera entre nós, nossas festas têm um encanto indescritível. Milhões de músicos cantam em liras harmoniosas as maravilhas de Deus e da Criação, com acentos mais deslumbrantes que vossas mais suaves melodias. Longas procissões aéreas de Espíritos adejam como zéfiros, lançando, sobre os recém-chegados, nuvens de flores cujo perfume e variados matizes não podeis compreender. Depois, o banquete fraterno a que são convidados os que com felicidade terminaram suas provas, e vêm receber a recompensa de seus trabalhos. Oh! meu amigo, gostaríeis de saber mais; impotente, porém, é a vossa linguagem, para descrever essas magnificências. Eu vos disse bastante, a vós que sois os meus bem-amados, para vos dar o desejo de aspirá-las. E, então, caro Emílio, livre da missão que realizei junto a ti, na Terra, eu a continuarei para te conduzir através do espaço, e te fazer desfrutar todas as felicidades.

Felícia

(Esposa do evocador Emílio, há um ano seu guia protetor)

VINDE A NÓS

(Enviada pela Sra. Cazemajoux, médium de Bordeaux)

O Espiritismo é a aplicação da moral evangélica,pregada pelo Cristo em toda a sua pureza; assim, os homens que o condenam sem o conhecer são pouco prudentes. Com efeito, por que qualificar de superstição, de charlatanice, de sortilégios, de demonomania as coisas que o vulgar bom-senso faria aceitar se quisessem estudá-lo? A alma é imortal: é o Espírito. A matéria inerte é o corpo perecível a despojar-se de suas formas para não se tornar, quando o Espírito a deixou, senão um monte de podridão sem nome. E achais lógico, vós que não acreditais no Espiritismo,que esta vida, que para a maioria dentre vós é de amargura, de dores, de decepções – um verdadeiro purgatório – não tenha outro fim senão o túmulo? Desiludi-vos; vinde a nós, pobres deserdados dos bens, das grandezas e dos prazeres terrenos, vinde a nós e sereis consolados, vendo que vossas dores, vossas privações, vossos sofrimentos devem abrir-vos as portas dos mundos felizes, e que Deus, justo e bom para com todas as criaturas, só nos provou para o nosso bem, conforme estas palavras do Cristo: “Bemaventurados os que choram, porque serão consolados.” – Vinde, pois, incrédulos e materialistas; abrigai-vos sob a bandeira na qual,em letras de ouro, estão inscritas estas palavras: Amor e caridade para os homens, que são todos irmãos; bondade, justiça,indulgência de um pai grande e generoso para os Espíritos que criou e que eleva a si por caminhos seguros, embora vos sejam desconhecidos; a caridade, o progresso moral, o desenvolvimento intelectual vos conduzirão ao autor e Senhor de todas as coisas.

Não vos instruímos senão para que, por vossa vez,trabalheis para espalhar essa instrução; mas, sobretudo, fazei-o sem azedume; sede pacientes e esperai. Lançai a semente; a reflexão e o auxílio de Deus a farão frutificar, a princípio para um pequeno número, que fará como vós, e, pouco a pouco, aumentando o número de operários, vos fará esperar, após as semeaduras, uma boa e abundante colheita.

Ferdinand,

Filho do médium

PROGRESSO INTELECTUAL E MORAL

(Enviada pelo Sr. Sabò, de Bordeaux)

Venho dizer-vos que o progresso moral é o de mais útil aquisição, porque nos corrige de nossos maus pendores e nos torna bons, caridosos e devotados aos nossos irmãos. Entretanto, o progresso intelectual também é útil para o nosso adiantamento, porque eleva a alma, faz com que julguemos mais corretamente as nossas ações, facilitando, assim, o progresso moral; inicia-nos nos ensinos que Deus nos tem dado há tantos séculos, por homens de méritos diversos, que vieram sob todas as formas e em todas as línguas para nos dar a conhecer a verdade, e que outros não eram senão Espíritos já avançados, enviados por Deus para desenvolverem o entendimento humano. Mas na época em que viveis, a luz que apenas clareia um pequeno número vai brilhar para todos. Trabalhai, pois, para compreenderdes a grandeza, o poder, a majestade, a justiça de Deus; para compreenderdes a sublime beleza de suas obras; para compreenderdes as magníficas recompensas concedidas aos bons e os castigos infligidos aos maus; enfim, para compreenderdes que o único objetivo a que deveis aspirar é o de vos aproximardes dEle.

Georges

(Bispo de Périgueux e de Sarlat

feliz por ser um dos guias do médium)

A INUNDAÇÃO

(Enviada pelo Sr. Casimir H., de Inspruck22; traduzido do alemão)

Um dia surgiu uma fonte numa região outrora estéril. A princípio não passava de um delgado filete de água a correr na planície, ao qual não deram muita atenção. Pouco a pouco esse fraco regato engrossou, tornando-se ribeirão; alargou-se, invadiu as terras vizinhas, mas as que ficaram descobertas foram fertilizadas e produziram a cem por um. Contudo, um proprietário ribeirinho, descontente por ver seu terreno recuado, tentou deter o curso para reconquistar a porção coberta pelas águas, julgando, assim, 22 N. do T.: Em vez de Inspruck, não estaria o Espírito se referindo à cidade austríaca de Innsbruck? aumentar as suas riquezas. Ora, aconteceu que, reprimido, o ribeirão submergiu tudo, terreno e proprietário.

Tal é a imagem do progresso; como um rio impetuoso,rompe os diques que se lhe opõem e arrasta com ele os imprudentes que, em vez de lhe seguir o curso, procuram entraválo. Será o mesmo com o Espiritismo. Deus o envia para fertilizar o terreno moral da Humanidade. Bem-aventurados os que souberem aproveitá-lo e infelizes os que tentarem opor-se aos desígnios de Deus! Não o vedes avançar a passos de gigante pelos quatro pontos cardeais? Por toda parte sua voz já se faz ouvir e logo cobrirá de tal modo a dos inimigos, que estes serão forçados ao silêncio e constrangidos a se curvarem ante a evidência. Homens! os que tentam entravar a marcha irresistível do progresso vos preparam rudes provas. Deus permite que assim seja para castigo de uns e glorificação de outros; mas vos dá no Espiritismo o piloto que vos deverá conduzir ao porto, levando nas mãos a bandeira da esperança.

Wilhelm,
Avô do médium

Allan Kardec
R.E. , maio de 1861, p. 238